sexta-feira, 4 de junho de 2010

De volta à floresta


O diretor da organização The Green Initiative explica como reverter a devastação com o plantio de árvores

Eduardo Araia

Ao ligar seu carro, ouvir um CD ou acender uma lâmpada, você participa de uma cadeia poluidora que despeja no ar mais gases ligados ao aumento da temperatura média da Terra. Conscientes disso, muitas pessoas e empresas já buscam alternativas para compensar a situação. Uma opção é oferecida pela organização paulistana The Green Initiative. Enquanto outras entidades em geral trocam a quantidade de emissão de gases do efeito estufa por créditos de carbono, a organização propõe neutralizá-la recompondo áreas de mata degradada às margens de rios e lagos.

A Green Initiative tem apenas um ano, mas seus diretores os engenheiros Osvaldo Martins e Francisco Maciel, o biólogo Roberto Strumpf e o engenheiro de computação David Dieguez atuam há mais de uma década na área, desenvolvendo projetos para governos, indústrias e instituições. A entidade ganhou nome em inglês porque, segundo Osvaldo, a expectativa era trabalhar com a adesão de parceiros estrangeiros. Mas muitos brasileiros têm procurado a organização. O escritório de advocacia Pinheiro Neto (um dos maiores do país), por exemplo, calculou suas emissões de cinco anos e, para neutralizá-las, financiará o plantio de 64 mil árvores nativas da mata Atlântica. Já a banda de pagode Jeito Moleque chamou a entidade para neutralizar o primeiro show da turnê. Se alguém em contato direto com o público jovem tem essa consciência, as coisas estão melhorando mesmo, diz Osvaldo.
Como surgiu a idéia de criar a The Green Initiative?
O tema de meu doutorado em ecologia foi o potencial de absorção de carbono na recomposição de matas ciliares. A idéia era desenvolver projetos desse tipo com créditos de carbono fl orestal, como definido no Protocolo de Kyoto. Concluí que é muito difícil fazer um projeto como esse, porque há no Protocolo uma série de obstáculos para implantá-lo. Por exemplo, Kyoto contempla sistemas que são lucrativos por si sós, como uma usina de açúcar; já as fl orestas, para a economia convencional, não dão lucro. Ao analisar essa questão, pensamos na The Green Initiative como um sistema voluntário ou seja, não é preciso passar pela burocracia de Kyoto e não há geração de créditos de carbono em que uma pessoa ou empresa decide tornar seu processo mais eficiente em termos ambientais, com ênfase na questão do efeito estufa. Fazemos um inventário de emissão de gases de efeito estufa do projeto e uma relação metodológica para determinar quantas árvores é preciso plantar a fim de absorvê-los na atmosfera.
As florestas do Brasil não ajudam a combater o efeito estufa, como se acredita já há algum tempo?
A relação entre florestas e efeito estufa é algo muito delicado no Brasil. Cerca de 75% de nossas emissões de gases vêm, direta ou indiretamente, da devastação das florestas; se as considerarmos no balanço de emissão, o país está entre os cinco maiores poluidores do mundo.
Qual foi o primeiro projeto da ONG?
Foi a neutralização do CD de Txai Brasil, lançado no ano passado na conferência da ONU de mudanças climáticas. Fizemos o inventário de emissões do álbum, desde a obtenção do policarbonato até o consumo de energia caso o CD fosse ouvido uma vez por semana durante dez anos. Concluímos que, para cada CD, é emitido 1,8 quilo de dióxido de carbono. Como a tiragem foi de 3 mil exemplares, fizemos o plantio de 216 árvores.
Vocês monitoram o projeto depois da implantação?
Precisamos acompanhá-lo nos primeiros dois anos de reflorestamento a fase em que as mudas se adaptam às áreas recuperadas, com o maior risco de mortalidade. Os projetos são monitorados em toda sua vida útil (mais de 20 anos) pelo Ibama e pela Polícia Florestal, pois, uma vez que as Áreas de Proteção Permanente (APPs) como as áreas ciliares, prioritárias em nossos projetos sejam recuperadas, sua existência intacta se torna obrigatória por lei.
Como a organização escolhe as áreas de plantio?
Só no estado de São Paulo há 1 milhão de hectares de Áreas de Proteção Permanente de mata ciliar sem vegetação. A forma mais segura de encontrar essas áreas é recorrer ao cadastro dos Comitês de Bacias da Secretaria Estadual do Meio Ambiente. Esses comitês se inscrevem no Programa de Recuperação de Mata Ciliar da Secretaria, que não tem recursos para todos os casos. Contatamos alguém que não pôde ser atendido e acertamos a implantação.
Resgatar a dívida ambiental pelo plantio de árvores compensa outras alternativas, como a redução do consumo de combustíveis fósseis?
Por mais eficiente que seja o processo, sempre haverá poluição e, portanto, espaço para compensações ambientais, como a recuperação florestal. A grande questão ambiental do mundo não é a busca por energias mais limpas, é o questionamento dos padrões de consumo. Seria impossível expandir para a Terra o padrão de consumo de um cidadão americano; não haveria energia disponível nem depósito sufi ciente para tantos resíduos. O efeito estufa mostra isso: o depósito ficou cheio de CO2.
Há uma calculadora no site de vocês que permite que pessoas e famílias saibam quanto emitem de gases do efeito estufa. Como funciona?
O primeiro número a inserir é quantos quilowatts/hora de energia elétrica a pessoa consome em casa. As emissões ligadas ao transporte vêm a seguir. O outro componente é o consumo de gás de cozinha. A calculadora totaliza os valores e indica quantas árvores é preciso plantar para absorver esse gás.
O que cada brasileiro pode fazer em seu cotidiano para ajudar a reduzir a poluição?
Além de ter, na média, um padrão de consumo baixo, o Brasil usa uma energia mais limpa que a de outros países. A grande contribuição do cidadão médio brasileiro seria reciclar, reutilizar, economizar em tudo. Tratar os bens, objetos, recursos naturais de forma respeitosa. Plantar muitas árvores nunca serão demais e, principalmente, educar as crianças, porque a mudança da interferência do homem no meio ambiente é uma atividade de longuíssimo prazo.

Acesse o site da organização:
www.thegreeninitiative.com

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