quinta-feira, 17 de junho de 2010

EXISTE COPA SEM MUNDO?

A Fhito fórmulas inova mais uma vez!

sexta-feira, 4 de junho de 2010

À moda do dono - Casa própria feita por você mesmo


Cada vez mais e mais pessoas concretizam o sonho da casa própria – construída com as próprias mãos. Esqueça o preconceito: você também pode bancar o joão-de-barro

texto Ronaldo Bressane


Todo dia ele fazia tudo sempre igual. E sempre terminava em churrasco com a turma toda. Antes, no entanto, era meter a mão na massa, na marra, na maciota, na medida. É que tinha resolvido levantar a própria casa. Tinha uns amigos que já moravam na área – todos fugidos de apertamentos na cidade. Comprou um lote naquela porção intocada de mata atlântica e colocou mãos à obra. A mão de obra foi importada: queria trabalhar com os gaúchos que havia conhecido na fronteira do Uruguai, mestres em criar telhados de palha. O pagamento seria pequeno, porém justo, e a picanha de todo dia cimentava a amizade da companheirada.

Quando viu o sobradão subido no terreno, não deu outra. Repetiu o esquema cotidiano dos quatro meses anteriores – e, poxa, por que não? Promoveu um novo e suntuoso churrasco para a galera – “ninguém é de ferro”, ri James Elkis, o construtor dessa história. Engenheiro civil, há 25 anos Elkis (primo do paisagista Gilberto) comprou um lote de 2300 m2 em um condomínio em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, onde nos anos 1960 alguns artistas haviam construído ateliês ou casas para o fim de semana. Fez uma maquete de oito cômodos, 4 x 4, formato de cruz, prevendo um sobrado de 200 m2. Foi matutando a ideia. Um dia soube que a Eletropaulo se desfazia de várias cruzetas de madeira, daquelas usadas para postes. Encheu dois caminhões de cruzetas. “Com essa madeira deu para fazer deque, vigas, tesouras, batentes de janelas. Material de graça, só paguei o frete”, afirma.

O teto, feito de palha de Santa Fé, é um verdadeiro artesanato. “A palha dá no banhado do Rio Grande do Sul, é tradição dos gaúchos para construir suas casas; os uruguaios também usam – eu tinha visto uma casa assim em Punta del Este e babei. O telhado tem mais área que a casa inteira”, diz. Tirou quatro meses de licença do trabalho, chamou um pessoal para dar uma força – os tais gaúchos importados. “Fazia churrasco todo dia, para motivar.” O que não fosse trabalho de carpinteiro ou pedreiro, hidráulica, elétrica, ele fazia – no resto, sete pessoas o ajudaram.

Mais madeira de demolição reutilizada, guarnições recicladas – e até o vidro das janelas saiu de graça: “Troquei um computador que eu tinha pelos vidros, assim envidracei a casa toda na faixa”. No entorno da casa criou ambientes com bambu – bancos, garagem, gazebo. Mais tarde, o bambu seria a estrutura de sua nova carreira. Deu um pé na engenharia e começou a criar luminárias, objetos de decoração e estruturas de bambu tratado. Depois de duas décadas vivendo na casa que construiu, estava na hora de ir plantar outras casas por aí. Hoje Elkis vive em Anápolis (GO).

Ecovilas. Uma saída?Goiás parece ser mesmo o centro da nova consciência imobiliária. Em Pirenópolis estabeleceu-se André Jae ger Soares, 46, quase um evangelizador do “construa você mesmo”. Ali funciona o Ecocentro Ipec, Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado. Permacultura é uma palavra criada pelos ecologistas australianos Bill Mollison e David Holmgren na década de 1970 e vem de “permanent culture”, ideia assentada sobre a sustentabilidade ecológica.

Pedagogo, tradutor e professor de informática, Jaeger saiu do Brasil no começo dos anos 80 e foi tentar a sorte na Austrália. Descobriu toda uma cultura voltada à autoconstrução. Sentiuse à vontade: desde os 13, quando vivia em Novo Hamburgo (RS), dava uma força para os pais e vizinhos montarem suas moradias. Fundou um instituto de sustentabilidade na Austrália e, oito anos depois, voltou ao Brasil para mostrar às pessoas que construir a própria casa “não é coisa de hippie”.

“Muitos fizeram casas em mutirão, e temos a riquíssima experiência das favelas. A classe média é que tem preconceito com a autoconstrução”, afirma Jaeger – que garante levantar uma casa em 60 dias, com uma equipe mínima. Já fez 30 casas em Pirenópolis e está construindo quatro ecovilas – sem contar a consultoria que realiza aqui e em países como Argentina e Portugal.

Jaeger crê que mudar para a própria casa equivale a transformar os próprios valores. “Numa ecovila, temos outro modelo econômico: o custo é baixo, mas a segurança e o conforto são altos. O ar é mais puro, o conforto térmico é melhor, tenho uma casa confortável, amena, sem ar-condicionado, a água que bebo é da chuva, vivo no meio dos pássaros, não preciso de porteiros nem pago condomínio...” É uma experiência inevitável a longo prazo, segundo o engenheiro autodidata. “Ou fazemos isso ou nossa sociedade colapsa. Não há como manter esses níveis de consumo e stress pessoal e ambiental. Nas ecovilas antecipamos o futuro: quando chegar a pressão, as pessoas terão uma boa referência.”

Um exemplo é a energia elétrica. “Aqui, temos um sistema demonstrativo de energia solar e outro de biogás. Mas o grosso do nosso uso é via rede elétrica, ainda não há condições econômicas para viabilizar isso. Acontece que, se a energia acabar, não se faz nada – sem gasolina, em duas semanas faltaria comida em São Paulo. Aqui não: sobrevivemos com o que plantamos. Por não terem sido educadas a viver com o essencial, quando as pessoas ficam sem luz acham que vão morrer. E algumas vão mesmo... porque não se prepararam”, diz o permacultor.

Apesar do desinteresse por TV, nas ecovilas a banda larga de internet é essencial. E, ao lado da necessidade de assumir seu consumo de energia, tu te tornas responsável pelos resíduos que cativas... “A primeira coisa que fizemos foi desenvolver tecnologias de reciclagem de lixo. Um sanitário seco transforma resíduo humano em húmus. Aqui, 100% do lixo orgânico é reciclado e 40% do resto se transforma em matéria-prima para ser usado em arte ou educação. Nas ecovilas, uma pessoa produz menos de 5% do lixo de uma pessoa vivendo em uma cidade”, diz.

Mão na massaMas nem só engenheiros ou militantes ecológicos vivem nas casas à moda do dono. Tem gente a que simplesmente dá na telha levantar seu espaço – caso de Lilian Chiari, administradora de 29 anos. Ela construiu a própria casa somente com a ajuda de um pedreiro, de um vizinho especialista em adobe, além, claro, do marido, um especialista em serviços verticais que trabalha no Parque Nacional da Serra do Cipó. É uma construção de 96 m2, com três quartos, um banheiro, uma sala com cozinha e varanda – tudo prestes a ganhar mais 70 m2 com cozinha de fogão a lenha e mirante. “Ela ainda não está acabada, não teve projeto nem nada, nem arquiteto nem engenheiro. É tudo uma mistura de sorte e vontade, meio fora do padrão convencional.”

“A melhor parte é meter a mão na massa”, diz Lilian, que se mudou para a serra do Cipó há um ano – a casa ficou de pé em nove meses. Morando com marido e filha em um município de 3 mil habitantes, quando sente saudade da cidade Lilian vai visitar parentes em Belo Horizonte, a 100 km do Cipó. “Fiz minha casa aqui porque queria de uma maneira concreta ficar mais perto do mundo natural, e a possibilidade de realizar uma utopia de vida boa na cidade é difícil”, diz. O interessante de viver nesse esquema é que não existe rotina: “É muito gostoso acordar, ver o que é preciso fazer, se o cão ficou doente, se a plantinha requer cuidado...”

Além da ideologiaSe você não quer mudar todo mundo para a casinha de sapê cantada pelo saudoso Zé Rodrix e apenas quer se mudar para um lugar mais bacana, construir o próprio espaço é a melhor alternativa – economicamente. O gramático Francisco Moura, 60, há dez anos adquiriu um sítio dos anos 40 no sertão de Barra do Una, litoral paulista. O filho, o arquiteto Gustavo Moura, ajudou na reforma. “Mantivemos a rusticidade e respeitamos as características essenciais da casa, o cimento queimado, mas abrimos espaços, colocamos vidros”, diz o professor. Construiu ainda uma área de lazer – a piscina aproveita a água de uma nascente e devolve-a para o mesmo rio que contorna a propriedade, de 120 mil m2, com somente 10 mil m2 utilizáveis: o restante é destinado à preservação da mata original.

Francisco vai lá a cada 15 dias – mas a ideia é morar no Una a médio prazo. Por ser um sítio primitivo, sem luz elétrica, foi adquirido a bom preço. “O preço de uma casa está relacionado aos materiais de acabamento”, ensina Jaeger. “A indústria está voltada ao alto nível de industrialização e refinamento. Se você coloca mármore da Itália, tão bom quanto uma pedra de Minas Gerais, vai gastar muito mais”, afirma ele, que calcula o custo de suas moradias em 40% do valor praticado no mercado.

Elkis confirma: “Minha casa em Taboão custou 30% do que custaria se tivesse encomendado ou comprado uma pronta”. Elkis não mora mais em Taboão da Serra – em Goiás, como diz, está tudo por fazer. Porém, mesmo de longe, se orgulha do feito. Um orgulho intransferível, como descreve o escritor Primo Levi em A Chave-estrela, sobre a experiência da construção: “O prazer de ver crescer sua criatura, placa sobre placa, parafuso após parafuso, sólida, necessária, simétrica e adaptada ao escopo, e, depois de terminada, de contemplá- la e pensar que talvez viva mais do que você e talvez sirva a alguém que você não conhece e que não o conhece. Talvez possa voltar a vê-la quando estiver velho, e lhe parecerá bela, e no fim não importa se parece bela somente a você, que pode dizer a si mesmo ‘talvez um outro não tivesse conseguido’”.


De volta à floresta


O diretor da organização The Green Initiative explica como reverter a devastação com o plantio de árvores

Eduardo Araia

Ao ligar seu carro, ouvir um CD ou acender uma lâmpada, você participa de uma cadeia poluidora que despeja no ar mais gases ligados ao aumento da temperatura média da Terra. Conscientes disso, muitas pessoas e empresas já buscam alternativas para compensar a situação. Uma opção é oferecida pela organização paulistana The Green Initiative. Enquanto outras entidades em geral trocam a quantidade de emissão de gases do efeito estufa por créditos de carbono, a organização propõe neutralizá-la recompondo áreas de mata degradada às margens de rios e lagos.

A Green Initiative tem apenas um ano, mas seus diretores os engenheiros Osvaldo Martins e Francisco Maciel, o biólogo Roberto Strumpf e o engenheiro de computação David Dieguez atuam há mais de uma década na área, desenvolvendo projetos para governos, indústrias e instituições. A entidade ganhou nome em inglês porque, segundo Osvaldo, a expectativa era trabalhar com a adesão de parceiros estrangeiros. Mas muitos brasileiros têm procurado a organização. O escritório de advocacia Pinheiro Neto (um dos maiores do país), por exemplo, calculou suas emissões de cinco anos e, para neutralizá-las, financiará o plantio de 64 mil árvores nativas da mata Atlântica. Já a banda de pagode Jeito Moleque chamou a entidade para neutralizar o primeiro show da turnê. Se alguém em contato direto com o público jovem tem essa consciência, as coisas estão melhorando mesmo, diz Osvaldo.
Como surgiu a idéia de criar a The Green Initiative?
O tema de meu doutorado em ecologia foi o potencial de absorção de carbono na recomposição de matas ciliares. A idéia era desenvolver projetos desse tipo com créditos de carbono fl orestal, como definido no Protocolo de Kyoto. Concluí que é muito difícil fazer um projeto como esse, porque há no Protocolo uma série de obstáculos para implantá-lo. Por exemplo, Kyoto contempla sistemas que são lucrativos por si sós, como uma usina de açúcar; já as fl orestas, para a economia convencional, não dão lucro. Ao analisar essa questão, pensamos na The Green Initiative como um sistema voluntário ou seja, não é preciso passar pela burocracia de Kyoto e não há geração de créditos de carbono em que uma pessoa ou empresa decide tornar seu processo mais eficiente em termos ambientais, com ênfase na questão do efeito estufa. Fazemos um inventário de emissão de gases de efeito estufa do projeto e uma relação metodológica para determinar quantas árvores é preciso plantar a fim de absorvê-los na atmosfera.
As florestas do Brasil não ajudam a combater o efeito estufa, como se acredita já há algum tempo?
A relação entre florestas e efeito estufa é algo muito delicado no Brasil. Cerca de 75% de nossas emissões de gases vêm, direta ou indiretamente, da devastação das florestas; se as considerarmos no balanço de emissão, o país está entre os cinco maiores poluidores do mundo.
Qual foi o primeiro projeto da ONG?
Foi a neutralização do CD de Txai Brasil, lançado no ano passado na conferência da ONU de mudanças climáticas. Fizemos o inventário de emissões do álbum, desde a obtenção do policarbonato até o consumo de energia caso o CD fosse ouvido uma vez por semana durante dez anos. Concluímos que, para cada CD, é emitido 1,8 quilo de dióxido de carbono. Como a tiragem foi de 3 mil exemplares, fizemos o plantio de 216 árvores.
Vocês monitoram o projeto depois da implantação?
Precisamos acompanhá-lo nos primeiros dois anos de reflorestamento a fase em que as mudas se adaptam às áreas recuperadas, com o maior risco de mortalidade. Os projetos são monitorados em toda sua vida útil (mais de 20 anos) pelo Ibama e pela Polícia Florestal, pois, uma vez que as Áreas de Proteção Permanente (APPs) como as áreas ciliares, prioritárias em nossos projetos sejam recuperadas, sua existência intacta se torna obrigatória por lei.
Como a organização escolhe as áreas de plantio?
Só no estado de São Paulo há 1 milhão de hectares de Áreas de Proteção Permanente de mata ciliar sem vegetação. A forma mais segura de encontrar essas áreas é recorrer ao cadastro dos Comitês de Bacias da Secretaria Estadual do Meio Ambiente. Esses comitês se inscrevem no Programa de Recuperação de Mata Ciliar da Secretaria, que não tem recursos para todos os casos. Contatamos alguém que não pôde ser atendido e acertamos a implantação.
Resgatar a dívida ambiental pelo plantio de árvores compensa outras alternativas, como a redução do consumo de combustíveis fósseis?
Por mais eficiente que seja o processo, sempre haverá poluição e, portanto, espaço para compensações ambientais, como a recuperação florestal. A grande questão ambiental do mundo não é a busca por energias mais limpas, é o questionamento dos padrões de consumo. Seria impossível expandir para a Terra o padrão de consumo de um cidadão americano; não haveria energia disponível nem depósito sufi ciente para tantos resíduos. O efeito estufa mostra isso: o depósito ficou cheio de CO2.
Há uma calculadora no site de vocês que permite que pessoas e famílias saibam quanto emitem de gases do efeito estufa. Como funciona?
O primeiro número a inserir é quantos quilowatts/hora de energia elétrica a pessoa consome em casa. As emissões ligadas ao transporte vêm a seguir. O outro componente é o consumo de gás de cozinha. A calculadora totaliza os valores e indica quantas árvores é preciso plantar para absorver esse gás.
O que cada brasileiro pode fazer em seu cotidiano para ajudar a reduzir a poluição?
Além de ter, na média, um padrão de consumo baixo, o Brasil usa uma energia mais limpa que a de outros países. A grande contribuição do cidadão médio brasileiro seria reciclar, reutilizar, economizar em tudo. Tratar os bens, objetos, recursos naturais de forma respeitosa. Plantar muitas árvores nunca serão demais e, principalmente, educar as crianças, porque a mudança da interferência do homem no meio ambiente é uma atividade de longuíssimo prazo.

Acesse o site da organização:
www.thegreeninitiative.com

Novo palmito

Palmito de pupunha socorre a Mata Atlântica

A palmeira pupunha, peruana, tem papel coadjuvante na preservação ambiental: como alternativa ao palmito, está ajudando a proteger a Mata Atlântica. Isso porque a nativa juçara, fonte original da iguaria, está ameaçada de extinção – um risco para a cadeia alimentar da fauna nos 5% restantes desse tipo de floresta. “O consumidor ainda não se deu conta de que pode alterar a situação”, diz o biólogo Domingos Bernardi Neto, da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. Ocorre que muitos palmiteiros ainda se embrenham em áreas protegidas devido à facilidade da extração ilegal. O palmito roubado é misturado ao de manejo sustentável, o que dificulta a fiscalização. Já a pupunha traz vantagens. É cultivada em áreas abertas, sua colheita é rápida e o palmito não oxida, dispensando conservantes. E o trunfo maior: brota com várias ramificações da mesma raiz. Os troncos não abatidos continuam vivos, enquanto a juçara, com só um tronco, morre na extração. Saber qual a procedência do palmito e a espécie usada é arma do consumidor. “Mas ideal mesmo”, afirma Domingos, “é o repovoamento das florestas com a juçara.”

Berçário da mata


As sementes coletadas e semeadas em viveiros são usadas para reflorestamentos

por Marcelo Delduque


Voltava para casa com o bolso cheio de sementes. Minha mulher perguntava se era de comer. Talvez um dia sirva para isso, eu respondia. O relato é de José Ferreira, morador da zona rural de Ribeirão Grande, município paulista localizado na borda do Vale do Ribeira. Ao sair para catar sementes no mato, ele sonhava viver de forma digna próximo ao ambiente que mais ama: a floresta. Havia entrado em contato com as espécies nativas ao trabalhar no reflorestamento de uma antiga área de mineração. Descobriu que os viveiros tinham carência de sementes nativas de boa qualidade, material que existe em fartura nos grotões perto de sua casa. Não imaginava que o que começava a engenhar resultaria num caso raro de aproveitamento econômico da natureza que não a degrada, mas, pelo contrário, ajuda a espalhar a mata para onde ela se tornou escassa. Em 2005, a ONG Ecoar Florestal, que atua na região, percebendo o potencial da iniciativa, ofereceu apoio técnico. Outras pessoas se interessaram e hoje o grupo, batizado de Semente Nativa, fornece sementes para diversos viveiros, entre eles um da SOS Mata Atlântica. Duas famílias vivem do ofício e outras duas caminham para isso. Os coletores atuam somente em áreas cujos proprietários autorizam a entrada, sempre respeitando normas técnicas de sustentabilidade. Claro que deixamos sementes para a mata e para os bichos, eles são nossos sócios. As abelhas indicam flor. Passarinho cantando? Pode ir lá que tem frutos maduros, diz José.

O defensor da floresta


O advogado Jayme Vita Roso criou e mantém, com recursos próprios, a única floresta urbana de São Paulo

por Eduardo Araia


Em 1963, o governo do presidente João Goulart provocava uma enorme incerteza política e a inflação andava nas alturas. Em tempos assim, o manual do bom investidor recomenda aplicações seguras, como imóveis - e foi essa a estratégia seguida pelo advogado Jayme Vita Roso. Aos 30 anos de idade, ele adquiriu um terreno de pouco mais de 855 mil metros quadrados (85,56 hectares) entre o bairro de Parelheiros, no sul da capital paulista, e o município de São Bernardo do Campo, a 42 quilômetros da praça da Sé e a 20 quilômetros de Santos. A idéia original era dividir a área (devastada pela ação de madeireiras) em lotes e vendê-los. Mas os caminhos profissionais de Vita Roso mudaram, levaram-no para longe do Brasil - e a história daquelas terras nunca mais seria a mesma.
O então advogado de um grande banco ganhou experiência em direito econômico e foi chamado no ano seguinte para fazer um serviço na Itália. Outros trabalhos se sucederam e ele foi ficando. Por volta de 1969, retornou ao Brasil a convite de uma empresa que queria explorar gás no Vale do Paraíba, mas o negócio não deu certo e ele voltou a viajar - dessa vez rumo à África, contratado por construtoras francesas e brasileiras. Ficou cinco anos por lá, em países como Gabão, Mauritânia, Costa do Marfim, os dois Congos (o ex-Zaire e o Congo-Brazzaville), Angola e Moçambique. Vita Roso só retornaria em definitivo ao Brasil na segunda metade da década de 1970, já com uma perspectiva bem diferente a respeito de seu sítio em Parelheiros.
“Depois de ver toda aquela desolação na África, comecei a pensar sobre o que fazer com a minha área”, conta. Naquele momento, a história familiar também pesou muito. “Meus antepassados emigraram do sul da Itália para o Brasil no século 19 por causa de problemas ambientais”, afirma. “Nos séculos 16 e 17, os árabes e espanhóis invadiram aquela região e destruíram a cobertura vegetal para fazer construções e barcos. No século 19, essa devastação ambiental facilitou o surgimento de diversas moléstias endêmicas, como a malária.”
Transformação
Vita Roso decidiu então recuperar o sítio, denominado Curucutu - homenagem em tupi-guarani ao som feito pela coruja, abundante ali -, e em 1979 deu início a esse projeto. Trocou uma propriedade em Mato Grosso pela construção de duas casas, a sede e outra menor, até hoje a serviço do empreendimento. E pôs-se a erguer uma infra-estrutura capaz de concretizar seu sonho.
Naquela época, temas como ecologia, preservação ou planos de manejo eram praticamente inacessíveis a leigos, e o advogado fez tudo conforme sua lógica e sua inspiração ditavam. Comprou mudas em Limeira, no interior de São Paulo, ganhou outras em suas viagens e começou o plantio. “Fui plantando aleatoriamente, como me veio na cabeça”, conta. Com isso, espécies exóticas ganharam espaço no reino da mata Atlântica, algo inaceitável pelos conceitos de reflorestamento adotados hoje. Outros detalhes da infra-estrutura, como os cinco lagos e a criação de um cinturão ao redor das terras, para prevenir incêndios, tampouco são aprovados pela atual legislação ambiental. Mas quem pode recriminar esses equívocos no trabalho de um pioneiro bem-intencionado?
A mata imaginada por Vita Roso começou com paineiras e cedrosbrancos plantados com suas próprias mãos. Até os amigos acharam que tudo aquilo era uma loucura e que ele não veria suas crias crescerem. “Algumas das árvores daquela época já atingiram 25 metros de altura, ou até mais”, sorri Vita Roso, satisfeito em contrariar a profecia agourenta.
Depois do início aleatório, o advogado passou a dar preferência às espécies nativas da região no reflorestamento. Pelas contas atualizadas, já foram plantadas cerca de 800 mil árvores, das quais 500 mil vingaram e formam grandes bosques. Entre elas estão o guapuruvu (cuja madeira era aproveitada pelos índios para fazer embarcações), a bracatinga, pinheiros chineses e japoneses, o angico, o pau-brasil, o jacarandá, o cedro, a peroba e a araucária. Hoje, Vita Roso calcula que as matas do Curucutu respondam por cerca de 0,5% do oxigênio consumido em São Paulo.
Eficiência
Com a vegetação retomando seu lugar, os animais voltaram a povoar aquelas terras. Hoje em dia, elas estão repletas de pequenos répteis, mamíferos como veados, pacas, tatus e cotias, insetos como borboletas e pássaros como papagaios e, claro, corujas. Vita Roso gosta de tudo em ordem, e hoje em dia seu sítio é um modelo de eficiência. A administração conta com sete casas - a sede, com 400 metros quadrados, e seis menores. Um viveiro produz mudas para o reflorestamento. Toda a área é cortada por estradas impecavelmente conservadas e sinalizadas. Os oito funcionários, todos registrados, cuidam também de pequenas hortas e de um apiário, cuja produção é destinada a seu consumo.
Um plano de manejo estabelecido recentemente deve modificar o atual perfil ambiental das terras. O lote composto por espécies exóticas deverá ser substituído por exemplares nativos da região. O segundo grupo, de áreas cuja flora nativa já vem sendo manejada, passará por procedimentos visando a aprimorá-la.
O trabalho do advogado no sítio Curucutu já lhe rendeu farto reconhecimento. Entre os prêmios que ganhou estão o PNBE de Cidadania, em 2004, os Tops de Ecologia e Social, da ADVB, respectivamente em 1996 e 2001, e o Revista Natureza de Ecologia, em 1997. O advogado recebeu ainda a Medalha Anchieta e o Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo, concedidos pela Câmara Municipal paulistana em 2004, e já foi objeto de reportagens em diversos órgãos de imprensa. Nada disso, porém, foi traduzido em apoio, e o fato é que ao longo de todos esses anos Vita Roso tem usado mensalmente metade do que ganha como especialista em leis antitruste e consultor jurídico de grandes empresas para arcar com os custos da reserva. “A única doação que recebemos foi de um amigo, que recentemente contribuiu com 20 mil reais”, afirma Vita Roso.
O tempo ensinou o advogado a ser cético em relação ao convívio com o poder público, cujas promessas de colaboração nunca se concretizaram. “Não conheço ninguém que ajude nessa área sem ter algum tipo de interesse”, comenta. “Ou quer manter cargo ou faz consultoria por indicação de alguém que depois pode facilitar a aprovação do projeto.” Por falta de opções, ele mesmo bancou a construção da estrada que liga seu terreno à Rodovia dos Imigrantes. Também saiu de seu bolso a instalação da energia elétrica e da fiação telefônica. Uma boa notícia recentemente foi a seleção da reserva pela Fundação O Boticário, que mantém o Projeto Oásis. Durante cinco anos, a propriedade será apoiada financeiramente.
Mesmo acreditando pouco no apoio externo, Vita Roso nunca deixou de preparar legalmente a Curucutu para essa possibilidade. No fim de 1995, uma portaria do Ibama tornou 10,89 hectares da área uma Reserva Particular do Patrimônio Natural - até hoje, a única do gênero localizada numa capital brasileira. No ano seguinte, foi constituída a Curucutu Parques Ambientais, uma ONG transformada em Organização da Sociedade Civil de Interesse Público em 2003. Com essa configuração, a entidade passa a ser administrada pelo Ministério da Justiça e fica capacitada a fazer parcerias com órgãos ou entidades públicos e privados, além de empresas e instituições nacionais e estrangeiras.
Dedicação
No início, Vita Roso chegava a passar pelo menos 14 horas diárias mexendo nas terras do Curucutu, plantando e replantando - sempre com o apoio da mulher e das três filhas. Agora, porém, perto de completar 74 anos, o advogado começa a sentir sua aparentemente inesgotável energia declinar. “Já não tenho mais idade para tocar aquilo”, diz em tom de lamento. É hora de cuidar mais da família, explica. Por isso, está à procura de uma empresa ou instituição que possa assumir a responsabilidade de levar o Curucutu adiante - com muito espírito humano, sempre buscando respeitar o próximo e administrando o empreendimento sem esperar nada em troca. “Precisamos e devemos compartir isso com os outros, não egoisticamente”, adverte. De qualquer modo, ele avalia que toda sua aventura ambiental valeu muito a pena. “O que fiz é uma obra que me dá muito orgulho e um grande prazer, espiritual e intelectual. Nada vai pagar a satisfação que tive ao realizar tudo aquilo.”

Antônio José, um jardineiro


 O que aconteceria com o mundo se todos os homens resolvessem cuidar das plantas do prédio da frente?

por Cristina Ramalho 


Tom Zé é um dos músicos brasileiros mais bacanas. Tem 24 discos, é sucesso internacional e um dos "melhores artistas do mundo na década de 90", segundo a revista Rolling Stone. Há coisa de 20 anos, quando, por assim dizer, apareceu uma casca de banana, ele se empregou numa fazenda no Embu, nas cercanias da capital paulista. Foram três anos nessa, sacolejando no caminhão, misturado aos peões. Depois, enfrentou outra temporada de enxada numa chácara macrobiótica, até descobrir que era possível praticar sua devoção à terra no próprio quintal. Assim, desde o começo dos anos 90, Tom Zé cuida do jardim de um prédio de apartamentos, no bairro de Perdizes, São Paulo - e nem mora mais ali, mudou-se para o edifício da frente. Ganha um salário mínimo, planta flores e frutas e exercita sua arte zen no dia-a-dia, aprendendo a esgrimar pragas das folhas, formigas enxeridas e condôminos de mau humor. 23 horas. As terças-feiras são livres.

Quando deu o estalo de cultivar a terra? 
Foi nos anos 80. Queria uma válvula de escape para os meus nervos. Desde pequeno, em Irará, na Bahia, aprendi que a terra alimenta a gente. Ali a principal cultura era o tabaco, o fumo. E quando se tentava plantar outra coisa, não vendia. Plantaram abacaxi lá, deu um abacaxi doce, maravilhoso. Fiz uma música pra isso, em 1972, "O Abacaxi de Irará". Tentei saber como se negociava, fui ao Ceasa (hoje Ceagesp), mas não deu. De modo que a terra sempre esteve presente na minha vida.

Mas você foi mexer na terra bem mais velho...
Eu estava com dificuldades e resolvi consultar o planeta Terra. Fazia terapia também, faço terapia, uma coisa não substitui a outra. Aí fui trabalhar numa fazenda mantida pela prefeitura do Embu.

Como era isso? 
Ia duas vezes por semana. Chegava lá bem cedo e saía com os peões, de madrugada, fazendo qualquer coisa que eles faziam, o que estava programado. Um dia era para cuidar de cenouras, outro para limpar a terra, outro para carpir. A gente plantava alface, agrião, tudo sem agrotóxicos. E a prefeitura doava os alimentos para entidades beneficentes. A cenoura de lá tinha um sabor incrível. Aquilo, natural, é um suco. No dia em que eu comi um pedaço, me veio a minha infância. Sabe aquela coisa de Proust, na página 36, de provar a madeleine e voltar no tempo? Eu senti isso com aquela cenoura.

O pessoal sabia quem você era?
Não. Mas um dia levei o violão, cantei pra eles, gostaram. Qualquer peão entende a minha música, que o pessoal acha tão sofisticada. Eles se divertiram bastante. Mas, logo depois, mudou o prefeito e o prefeito novo acabou com a fazenda. Aí, eu já me alimentava com comida macrobiótica e o presidente da associação macrobiótica tinha uma chácara e deixou a plantação por minha conta. Eu fazia tudo absolutamente sozinho, plantava verduras e temperos: manjericão, alecrim e pimentas. Aí, depois de um tempo, também tive de sair de lá.

E o jardim? 
Foi seu Rômulo, um italiano que morava ali no prédio (aponta para onde cuida do jardim, bem em frente) que me ensinou. Ele entendia, fazia uns enxertos de rosa e de plantas em geral. Consultei-o para saber que plantas podiam dar mais flores, como fazer enxertos, a adubação certa.

E o que você planta lá? 
Nosso jardim é muito caipira. O jardineiro também. Não uso chapéu, luvas... Só ponho para tirar retrato. Bom, tentamos manter a tradição de ter flores: buganvílias, primaveras, rosas, azaléias, marias-sem-vergonha, beijinhos americanos, manacás-da-serra, lírios cor-de-rosa - essa dá em janeiro, lindo, e em março já acabou. Compro no Ceasa ou planto mudas que o pessoal traz.

Você tem suas preferidas? 
Ah, acho que as roseiras são especiais. Eu dou nome para elas por causa da personalidade. Tem a "seu Rômulo", tem a "Paulo Freire", que é uma roseira boa, generosa, uma prostituta. Tem a roseira "Bailarina", dada por Sofia e Eliana, que são as bailarinas do prédio, filhas do professor de grego, seu Cavalcanti. Elas me deram uma rosinha cor-de-rosa delicada e resistente como o diabo. E tem as vermelhas, as "Trovadores Urbanos", porque a Maída, dos Trovadores, fez uma serenata para mim e, na hora em que ela cantou na frente do prédio, as rosas levantaram, ficaram lindas.

O que você aprendeu de mais bacana, mais importante?
A época de podar é uma novela. Já aprendi vários tipos de poda, a lua certa, essas coisas. Aprendi a sublimar o barulho da rua. E também aprendi a lidar com as pessoas do condomínio. Porque tem todo tipo de gente, não é? Há pessoas que têm ciúme, algumas reclamam que eu estou gastando muita água, outras trazem plantas e não entendem quando digo que não dá para plantar ali porque uma pode fazer sombra para a outra... Mas eu converso, explico, vou me virando.

Por esse trabalho você ganha um salário mínimo mensal, é isso? 
Olha, tem épocas que o síndico compreende o charme do pagamento e me paga. Tem épocas que ele não compreende, de modo que não sei bem quando recebi pela última vez. As pessoas aceitam me pagar, sim. Mas eu mesmo compro quase tudo, vou ao Ceasa, pago do meu bolso. Tem gente que traz plantas novas também. Quando vejo que não vai dar certo, eu negocio. Por exemplo, uma das moradoras, a Cacilda, trouxe um pau-brasil, mas aquilo cresce demais, vai tomando espaço. Aí eu negociei, comprei uma buganvília cor-de-rosa, linda. E assim vai...

Cuidar do jardim ajuda nas idéias? Ajuda a fazer música? 
O jardim está presente em tudo o que eu faço. Me ajuda, assim como a psicanálise ajuda também. A terra é alimentadora e minha cabeça fica com saúde para fazer a navegação da música, do terreno, dos materiais que ainda não entraram no universo da música. O jardim fornece combustível, alimenta a divagação cósmica. 


Jardim da infância


Mais que um amontoado estético de plantas, um canteiro deve ter significado para seu dono

por Liane Alves

Na minha infância tive a sorte de morar numa casa alugada cuja proprietária era uma portuguesa que morria de saudades das rosas da santa terrinha. Seu maior desejo era transformar o quintal daquela casa numa embaixada simbólica da cidade portuguesa de Sintra, com suas quintas de bom vinho e casarões floridos. Para garantir a realização do projeto, fez uma farta provisão de mudas e sementes que, não sei como, trouxe de Portugal. E, por causa desse sonho, o jardim da rua Grajaú, em São Paulo, virou uma sensação de parar gente na rua. Perfumadas rosas cor de champanhe em cachos (nunca mais vi...) se debruçavam sobre o caramanchão da entrada e roseiras com flores gigantes abriam-se nos canteiros (não raro passavam por ali freirinhas pedindo rosas para enfeitar a capela). Amores-perfeitos plantados por minha mãe bordavam todos os canteiros e uma das imagens mais queridas que tenho do meu pai é lembrá-lo de jeans e camiseta regando plantas no fim da tarde. Já o jardim atrás da casa era mais à portuguesa mesmo - ou seja, tudo misturado com todas as coisas, de tinhorões a lírios amarelos, passando por samambaias em xaxins e avencas em caixinhas de plástico. Ao vê-lo, um paisagista teria uma síncope.
Não conheci dona Rosa (claro, era esse seu nome), acho que ela morreu quando eu era pequena, mas, além de ter realizado e curtido seu sonho, proporcionou esse mesmo encanto, esse presente, para outras pessoas também. E esta pode ser uma generosa intenção ao se fazer um jardim - plantar pensando em quem vier no futuro
Existem outras intenções também. Vou dar mais dois exemplos, só para você ver como um jardim passa a ser muito mais significativo quando é plantado de forma intencional. Um deles é citado no livro Pesadelo Refrigerado, do escritor americano Arthur Miller. Ao entrar no jardim de uma mansão no sul dos Estados Unidos, Miller teve um choque. Era noite de lua cheia e a água dos chafarizes brilhava em mil formas diferentes, ao lado de fontes e estátuas de ninfas de mármore. Alvas também eram rosas, lírios e as muitas espécies de jasmim, assim como os nenúfares que boiavam sobre os espelhos d'água. Para seu espanto, estavadiante de um jardim noturno, desenhado intencionalmente para ser visto à luz da lua e evidenciar os contrastes entre o preto e o branco. Seus autores o haviam concebido como cenário perfeito para despertar corações enamorados - e demonstrar o poderio dos fazendeiros sulistas.
Outros jardins foram criados para testemunhar a passagem do tempo e a mudança das estações. Claude Monet, o mestre dos pintores impressionistas franceses, plantou flores, arbustos e árvores no terreno de sua casa de modo que, a cada estação, se formasse uma determinada palheta de cores, com alternância intencional de tons. Até hoje, os olhos dos turistas se deliciam em seu Jardim de Giverny, na França, onde guias turísticos descrevem como os narcisos, tulipas e jacintos de abril são substituídos pelas glicínias, azáleas e peônias de maio ou os nenúfares, dálias e girassóis de julho. Monet pintava com plantas e flores tanto quanto com tubos de tinta e transformou seu jardim num quadro vivo.
"Jardins deveriam ser reflexos da alma e não apenas um arranjo estético impessoal" diz Peter Webb, ambientalista e paisagista australiano residente no Brasil interessado em criar jardins que despertem sentimentos e em trabalhar a relação das pessoas com a natureza. "É muito importante que cada planta tenha significado para quem a plantou, é essencial que quando alguém a coloque na terra tenha uma intenção mais afetiva", afirma ele.
Referências infantis
Por mais simples que as palavras de Peter possam parecer, elas sinalizam algo muito importante. Pelo menos para mim, jardim era só para ser bonito. Apesar de ter um exemplo tão rico na infância, não tinha me dado conta de como as pessoas da minha família se relacionavam tão amorosamente com as plantas. E nem tinha percebido que tinha aprendido com eles o cuidado que hoje reservo ao meu jardim.Os jardins da infância, a pracinha onde a gente brincava, o paisagismo do clube, os fins de semana no sítio ou o acampamento nas férias são peças-chaves na formação da nossa relação com a natureza. Se as crianças testemunham amor e carinho com o meio ambiente, como não vão aprender com isso?
Mas foi Peter Webb que me fez pensar como os jardins, especialmente, são referências importantíssimas na vida. Lembro-me de algumas de suas perguntas durante um workshop de ecopsicologia conduzido por ele e a psicóloga Bel César, em São Paulo. "O que os jardins da sua infância lhe ensinaram? Que elementos deles você gostaria de mudar, ou conservar, quando fosse fazer seu próprio jardim? Qual o tipo de jardim que você gostaria de oferecer para seus filhos?" Em outras palavras, ele queria nos despertar para nossa intenção ao plantar um jardim. Tivesse eu me perguntado isso antes, certamente não teria dado para minhas duas filhas um pouco inspirado jardim de prédio. Que lembranças elas poderão ter de um canteiro de lírios da paz cercado de capim paulistinha?
Euler Sandeville Jr., professor de história dos jardins no curso de pós-graduação de paisagismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, também recomenda jardins mais afetivos, intencionais, que tenham significado para a pessoa. "É uma bela maneira de integrar sentimento com a natureza. Um jardim cuidado com carinho é um lugar íntimo, um diário escrito na terra", diz o professor paisagista. E, se for escrever um diário com flores e arbustos, não se esqueça de comemorar datas significativas para você colocando uma plantinha na terra.

As rosas conversam
Peter, como dona Rosa, simplesmente adora misturar várias qualidades de plantas no mesmo lugar. Especialmente as que se "dão bem". E planta também se dá bem com umas e não se dá com as outras? Sim, diz ele, que coleciona um monte de exemplos - as que gostam de sombra, as que vieram do mesmo habitat etc. "Como as pessoas, as plantas se sentem bem na companhia de certas plantas. Na verdade, elas vêm de ambientes naturais onde existe multiplicidade e diversidade. Comunicam-se entre si por meio do perfume, atraem diferentes espécies de insetos e pássaros, formam uma comunidade complexa, um ecossistema", diz o ambientalista.É como se um jardim fosse composto por diversos extratos: o das flores e folhagens, o dos insetos, o dos pássaros, o dos perfumes. Pensando assim, certamente você começa a perceber que pode querer um jardim de cheiros doces, como o do jasmim, ou um outro para atrair beija-flores ou joaninhas e tatus-bolas. Observando esses extratos, sua intencionalidade começa a se enriquecer.
Para Peter, as pessoas geralmente escolhem plantas que se parecem com elas, que espelham seu interior. As mais calmas se darão bem com plantas mais estáveis, que não mudam quase nunca de forma, ou as de folhagem escura com flores brancas. Segundo a teoria dos cinco elementos da medicina chinesa, elas são mais lunares e femininas (e cheias de energia yin, que é justamente mais suave, tranqüila e delicada). Gente mais agitada, diz Peter Webb, irá se apaixonar por flores mais solares e coloridas, ou seja, repletas de energia yang (mais masculina, segundo a sabedoria chinesa). Ou também pode ocorrer um mecanismo psicológico de compensação - jardins ordenados rigidamente talvez ajudem a equilibrar um interior instável e caótico.
De qualquer maneira, simbolizarão sempre o desejo de controle sobre a natureza. Segundo o historiador americano Keith Thomas em O Homem e o Mundo Natural, os jardins simbolizam também um desejo de domar e ordenar a natureza, que sempre foi ameaçadora para o homem primitivo. Isto é, só começamos a gostar do verde quando ele deixa de simbolizar uma ameaça direta à nossa sobrevivência.
Aprendizado contínuo
Com as plantas, Peter Webb diz que aprendemos a ser pacientes e a apreciar o ciclo do tempo. Acompanhando esses ciclos, aprendemos a amar as plantas incondicionalmente, mesmo quando não estão em floração, mesmo quando não produzem. Uma bela lição numa sociedade orientada para a produção e o consumo. Enfim, o aprendizado é múltiplo, diz Peter. Basta conviver com a natureza de forma dedicada, prestando atenção.Com tantos exemplos, resolvi dar uma mudança radical no meu jardim. Primeiro vou comprar duas ou três roseiras. Deixarei em paz as marias-sem-vergonha que teimam em esconder as pedras da floreira. Reservarei um canteiro só para o boldo e a malva se espalharem à vontade. Trarei amigas de outras espécies para minhas violetas. E, juro, de agora em diante nunca mais vou tentar esconder das visitas os meus vasinhos de plástico.
Jardins do Éden
O Paraíso Terrestre
O primeiro jardim foi o do Paraíso, de onde fomos expulsos. Ele nasceu como prova do amor de Deus por Adão e Eva, e hoje, ao fazer um jardim, muitos de nós ainda sonham em recriar um pequeno pedaço dele.O Suspenso da Babilônia
Uma das sete maravilhas do mundo antigo, era uma montanha artificial erguida em patamares cheios de árvores frutíferas e flores perfumadas, no meio do deserto da Mesopotâmia (atual Iraque). Foi presente do rei Nabucodonosor, cerca de 600 a.C., a sua esposa Amytis, saudosa das serras verdejantes de sua terra natal.
Os Zen Japoneses
Nasceram como metáforas de outra realidade. Recriam simbolicamente a geografia da Terra, com a areia representando o mar, e as pedras, ilhas. São paisagens secas, áridas, feitas exatamente para descansar a mente - e não para excitar os sentidos. O de Ryoan-Ji, no Japão, é o mais famoso deles.
Os do Castelo de Villandry 
Esses, na França, fazem rir. Seguem aqueles recortes sinuosos e elaborados do jardim do Palácio de Versalhes, só que com couves, repolhos, abóboras, alfaces, pimentões e tomates.
Os de Generalife
Encharcam a alma de poesia, com suas tamareiras banhadas pela luz avermelhada do crepúsculo, ao lado do Palácio de Alhambra, na Andaluzia, no sul da Espanha.

Plantas têm sentimento?

Tudo indica que sim. As primeiras experiências científicas sobre esse fenômeno começaram em Nova York, quase por acaso, numa noite do verão de 1966. Apenas para saciar sua curiosidade, o norte-americano Cleve Beckster resolveu colocar os eletrodos de um polígrafo – aparelho detector de mentiras – nas folhas de uma exuberanteDracaena massageana que sua secretária havia colocado sobre a mesa. Beckster era o maior especialista em detecção de mentiras dos Estados Unidos na época, mas não tinha a menor idéia do que iria acontecer em seguida. Para seu espanto, quando imaginou que poderia queimar uma das folhas da planta para testar sua reação, imediatamente as agulhas do polígrafo começaram a se mexer. O efeito se repetiu dramaticamente quando ele colocou uma caixa de fósforos perto das folhas ou simulou situações em que a planta fosse ameaçada. Da mesma maneira, o pesquisador verificou que a planta também reagia a estímulos de carinho ou palavras proferidas com afeto. A surpreendente experiência de Beckster abriu um campo enorme de pesquisas para outros cientistas, em diversos países. Boa parte desses estudos estão descritos num clássico do gênero, o livro A Vida Secreta das Plantas, dos norte-americanos Peter Tompkins e Chistopher Bird.

JARDINS BOTÂNICOS

Jardins botânicos são parques onde a natureza está bem cuidada. Mas não é só isso. Num passeio você conhece numerosas espécies de plantas e um pouco de sua origem. Os primeiros jardins botânicos do mundo surgiram para o estudo das plantas e suas serventias medicinais e alimentares. Eram coleções de plantas. Na descoberta das Américas, a incrível biodiversidade da matas e florestas fez multiplicar as coleções européias. Se nossas plantas foram para o Velho Mundo, as de lá (e de outros lugares) chegaram aqui. Canforeira e cravo-da-índia, originárias do Oriente, são exemplos das que estão aclimatadas em nossos jardins para pesquisa científica - muitos até dispõem de estufas para a conservação de espécies frágeis ao clima local. A mais vistosa é a do Jardim Botânico de Curitiba, inspirada num antigo palácio de cristal que existiu em Londres. Nos jardins do Rio de Janeiro e em São Paulo há os Jardins dos Sentidos, com espécies de cheiros e texturas generosas, que estimulam o olfato e podem ser tocadas. Alinhadas em alamedas, a natureza surge como “uma melodia, uma coisa que você pode entender, reconhecer, amar”, disse Tom Jobim, freqüentador assíduo do Jardim Botânico do Rio, lugar onde foi velado, numa tarde quente de 1993, perto das plantas e dos passarinhos.

terça-feira, 1 de junho de 2010

16, 17 e 18 de junho.Plant Care

Prezado Senhor (a),

 É com grande satisfação que lançamos o Curso Completo de Arborização
Urbana.

 O curso oferece apostila com todo o material, contém 6 módulos, que
abordam assuntos relacionados ao:

-planejamento, biologia, fisiologia, anatomia, compartimentalização,
relação solo-árvore, plantio, avaliação visual de árvore de risco, manejo
fitossanitário e nutricional, manejo de problemas, manejo integrado,
desordens fisiológicas, lesões, principais pragas e doenças, tipos de
podas, tipos de corte, equipamentos de poda, equipamentos de segurança,
inspeção de equipamentos, inspeção de árvores, segurança no trabalho,
escalada segura, tipos de nós, entre outros.

Todo o conteúdo é baseado no material da ISA (International Society of
Arboriculture), complementado com experiências brasileiras, portanto serve
como uma preparação à certificação internacional e traz conhecimentos
oportunos para o desenvolvimento correto do programa município verde-azul.

Caso haja enteresse em participar de nosso Curso de Arborização, entrar em:

http://www.plantcare.com.br/
em cursos, fazer a inscrição e enviar o recibo do depósito para o endereço
indicado no site.

Serão 3 dias de curso, aqui em Barão Geraldo- Campinas, dia 16, 17 e 18 de
junho.

No periodo da manhã, ocorrerão apresentações teóricas e no periodo da
tarde, práticas à campo.

O valor será de R$ 350,00 por pessoa, preço promocional do  III Encontro
Paulista de Arborização Urbana.

 Havendo dúvidas, entrar em contato.

 Att,

Eng. Agr. Joaquim Teotônio Cavalcanti Neto

Eng. Agr. PhD Silvana Bortoleto

Se você não deseja mais receber nossos e-mails, cancele sua inscrição
através do link
http://plantcare1.enviodenews.com/admin/sair.php?id=322|76|0&uid=100527150205786671010

Mata Atlântica perdeu 20 mil hectares desde 2008

Mata Atlântica perdeu 20 mil hectares desde 2008

28/5/2010
Agência FAPESP – Dados parciais do projeto Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, referentes ao período 2008-2010, revelam que a Mata Atlântica perdeu 20.857 hectares de sua cobertura vegetal, o que equivale à metade da área do município de Curitiba (PR).
O número foi divulgado no dia 26 de maio pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em evento promovido pela Fundação SOS Mata Atlântica.
O número é parcial porque o Inpe analisou imagens feitas por satélites de 72% da Mata Atlântica, com a atualização dos mapas de nove entre os 17 Estados nos quais o bioma está presente: Goiás, Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
Minas Gerais foi o Estado que mais perdeu cobertura nativa e, ao lado do Paraná e de Santa Catarina, está entre as unidades da Federação que mais desmataram esse bioma. Cabe ressaltar que Minas Gerais teve 80% de sua área analisada, e o Paraná, 90%, o que significa que o desmatamento pode ter sido maior.
O Inpe analisou até o momento 94.912.769 hectares. Os Estados do Nordeste não foram estudados por causa da incidência de nuvens sobre a região, o que impediu a análise. O instituto prevê a conclusão dessa avaliação até o fim do ano.
O projeto Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica surgiu em 2004 por meio de uma parceria entre a Fundação SOS Mata Atlântica e a Divisão de Sensoriamento Remoto do Inpe.
Mais informações: www.dsr.inpe.br e www.sosma.org.br.

NOVOS DADOS DO ATLAS DA MATA ATLÂNTICA

Hoje (26 de maio) foram divulgados os dados parciais do “Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica” para o período de 2008-2010, pela Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a iniciativa que tem o patrocínio de Bradesco Cartões. Neste intervalo, foram suprimidos ao menos 20.867 hectares de Mata Atlântica nativa em 9 dos 17 Estados brasileiros que abrigam o Bioma (GO, ES, MG, MS, PR, RJ, RS, SC e SP), área equivalente a metade da cidade de Curitiba. “Os dados avaliados no período de 2008-2010 mostram que o desmatamento na floresta nativa continua, e é preciso que as políticas públicas que incentivam a conservação e a fiscalização atuem de maneira mais efetiva para garantir a manutenção da floresta e, por consequência, dos serviços ambientais para milhões de pessoas que dependem de seus recursos naturais”, alerta Marcia Hirota, diretora de Gestão do Conhecimento e coordenadora do Atlas pela SOS Mata Atlântica.

Os Estados que possuem desflorestamentos mais críticos são Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina, que perderam 12.524 hectares, 2.699 hectares e 2.149 hectares, respectivamente. A estes números somam-se desflorestamentos de 1.897 hectares no Rio Grande do Sul, 743 hectares em São Paulo, 315 hectares no Rio de Janeiro, 161 em Goiás, 160 no Espírito Santo e 154 hectares no Mato Grosso do Sul, totalizando 20.867 hectares de floresta nativa suprimida. No que se refere ao desmatamento dos ecossistemas costeiros, dos nove Estados avaliados, São Paulo foi o único a perder 65 hectares de vegetação de restinga.

A sexta edição do Atlas considera o Mapa da Área da Aplicação da Lei 11.428 de 2006, publicada pelo IBGE, e avaliou 94.912.769 hectares, ou 72% da área total do Bioma Mata Atlântica. Os Estados do Nordeste ainda não puderam ser incluídos nesta atualização devido aos elevados índices de cobertura de nuvens e a previsão é que seus dados sejam divulgados até o final deste ano. 

Para conferir mais informações, relatórios e mapas, acesse o link do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica.