quarta-feira, 26 de maio de 2010

HORTA EM CASA


A TENDÊNCIA MUNDIAL É CADA VEZ MAIS GENTE PLANTANDO ALIMENTOS EM CASA

Universidades e estudiosos respeitáveis garantem que nossas casas ou condomínios, num futuro próximo, recuperarão aquele hábito ancestral da horta e do pomar no fundo do quintal. Isso deu na Time, mas nem precisava dizer, porque está na cara: cada vez mais gente, em todo o mundo, está preocupada com a qualidade dos alimentos. Daí que plantá-los nós mesmos parece idéia bem razoável, ainda mais se considerarmos os aspectos desestressantes da atividade - outra obviedade do tamanho de um bonde.




Claro, já há fornecedores de alimentos orgânicos nos grandes centros, inclusive com entrega domiciliar (lá em casa sempre chega uma simpática mensagem da Carol e da Marina, da Caminho da Roça, informando sobre os produtos da semana). É uma bênção para quem empalidece só de ouvir falar em pôr a mão na terra ou esterco de galinha (se formos buscar alguma mitologia, digamos que entre nós temos agricultores, caçadores, pescadores.). Para os resistentes, serviços como os de Carol e Marina serão a salvação da lavoura.



Mas outro aspecto que precisa ser levado em conta é que no tal do futuro próximo, parece que daqui a uns 15 ou 20 anos, a preocupação com gastos de energia crescerá muito. Então, plantar em casa, além de 100% confiável e bem mais prático, implicará economizarmos recursos naturais e gerar menos impactos, o ambiental e os de qualquer outra ordem. Pare um pouco e pense a respeito do tanto de combustíveis fósseis empregados na agricultura tradicional e mesmo na orgânica - os tratores, os caminhões etc.



Outro indicativo: o fenômeno das ecovilas. Essas comunidades, que crescem em quantidade e variedade conceitual em vários países do mundo, apontam para uma saída de bom senso que poderá garantir o emprego dos futurólogos e resolver nossas expectativas por alimentos mais saudáveis, mais confiáveis.



Ecovilas são, como parecem, comunidades sustentáveis, e muitas delas estão dentro ou bastante próximas de espaços urbanos. Cada qual se forma com um tipo diferente de "cola", ou seja, um motivo que aproxima um determinado número de famílias, um motivo pelo qual todos irão investir ou trabalhar cooperativamente ou solidariamente. Há quem se junte em torno de crenças ou práticas espirituais, alimentação saudável, destinação de lixo, energia limpa etc., ou combinações desses e outros objetivos. Não é de surpreender, mas é significativo: a agricultura orgânica, mãe da alimentação saudável, é a cola que mais aparece nos censos das ecovilas.





Plantando no cimento

Meu vizinho acabou com o quintal dele. O incômodo dos caminhões na porta, trazendo areia e outros materiais, ou a caçamba de entulho encostada na calçada, nada me doeu tanto quanto descobrir que a operação destinava-se a liquidar com a terra da área nos fundos. Onde antes havia um gramado, árvores, arbustos e flores, agora existe uma contínua e inclemente plataforma de cimento, adornada com um sei lá o quê de cerâmica.



Gosto não se discute - ao menos não aqui e agora -, mas drenagem do solo, sim: toda a água que cai na casa dele é devolvida ao sistema público de captação, vai parar nos rios, contribuir com as enchentes. Conto essa história porque muita gente se esquece de pensar nisso na hora H, então decide "valorizar o imóvel". Valorizar? Bem, como aparece em nossa Atitude deste mês (página 50), depende do ponto de vista.



Um dia, lá, meu vizinho provavelmente vai precisar das idéias de Regina e Eduardo Borges, casal de Jundiaí, cidade no entorno da metrópole de São Paulo. Eles moram no centrão e a única área com boa insolação - condição primordial para o desenvolvimento da maioria das plantas - é a laje, lá no alto. A solução foram as bombonas, aqueles barris de plástico azul, que se encontram por aí a 15 ou 20 reais cada um. A técnica consiste em fazer 24 orifícios nas paredes da bombona, depois plantar as mudas nesses buraquinhos.



Segundo Eduardo, naquela laje de apenas 16 metros quadrados, mais que suficiente para sete bombonas de 200 litros, obtém-se produção contínua de verduras e legumes para uma família de seis pessoas (o casal, três filhos e um neto), sem complicação, sem sujeira, nem grandes investimentos. "Na horta tradicional, são neces-sários 10 metros quadrados por pessoa", afirma Eduardo. "Com as bombonas, quase não temos problemas de ervas daninhas, que não encontram espaço para se desenvolver, e esquecemos o que é dor nas costas, mal comum a todos que vivem se abaixando para cuidar das plantas."



Se você estiver realmente pensando em experimentar as bombonas em sua casa (eu vou fazer isso), sugiro com franqueza comprar o manual Horta Vertical Orgânica, que Eduardo e Regina produziram, à venda no site (o serviço em vida simples voltou para o final dos textos). Porque, desde que começaram a desenvolver essa nova tecnologia de plantio em pequenos espaços, eles erraram na quantidade e na dimensão dos orifícios, testaram as espécies que se adaptam melhor à bombona. Enfim, eles já pagaram todos os micos por nós.



Outra boa idéia, como você viu na foto das páginas de abertura da reportagem, é fazer a horta na banheira. Por favor, amigo, leve em conta os gritos de sua mulher e desista de entrar com baldes de terra na suíte do casal! Prefira uma banheira velha, relativamente fácil de achar num ferro velho ou demolição, e instale-a no quintal de casa ou qualquer outra área de excelente insolação.

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