sexta-feira, 4 de junho de 2010

Berçário da mata


As sementes coletadas e semeadas em viveiros são usadas para reflorestamentos

por Marcelo Delduque


Voltava para casa com o bolso cheio de sementes. Minha mulher perguntava se era de comer. Talvez um dia sirva para isso, eu respondia. O relato é de José Ferreira, morador da zona rural de Ribeirão Grande, município paulista localizado na borda do Vale do Ribeira. Ao sair para catar sementes no mato, ele sonhava viver de forma digna próximo ao ambiente que mais ama: a floresta. Havia entrado em contato com as espécies nativas ao trabalhar no reflorestamento de uma antiga área de mineração. Descobriu que os viveiros tinham carência de sementes nativas de boa qualidade, material que existe em fartura nos grotões perto de sua casa. Não imaginava que o que começava a engenhar resultaria num caso raro de aproveitamento econômico da natureza que não a degrada, mas, pelo contrário, ajuda a espalhar a mata para onde ela se tornou escassa. Em 2005, a ONG Ecoar Florestal, que atua na região, percebendo o potencial da iniciativa, ofereceu apoio técnico. Outras pessoas se interessaram e hoje o grupo, batizado de Semente Nativa, fornece sementes para diversos viveiros, entre eles um da SOS Mata Atlântica. Duas famílias vivem do ofício e outras duas caminham para isso. Os coletores atuam somente em áreas cujos proprietários autorizam a entrada, sempre respeitando normas técnicas de sustentabilidade. Claro que deixamos sementes para a mata e para os bichos, eles são nossos sócios. As abelhas indicam flor. Passarinho cantando? Pode ir lá que tem frutos maduros, diz José.

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