quarta-feira, 26 de maio de 2010

JARDIM: CUIDADO AFETO RESPONSABILIDADE


Lembra aquele método infalível que todo mundo aprendeu para entender o milagre da vida de uma planta? Você selecionava a dedo um grão de feijão e o plantava num chumaço de algodão. Pronto. Começava, então, a espera. Dia a dia, acompanhando a saga do grão que escapou de ir para a panela e foi cumprir sua missão de gerar mais feijõezinhos. Quando o caule começava a despontar do chumaço era uma alegria de fazer gosto até no João, aquele do pé de feijão da clássica história infantil. Depois, vinha a primeira folha e mais outra e outra. Os mais sortudos e cuidadosos viram nascer até vagens para depois devorá-las com alegria no almoço.




Nessa brincadeira a gente aprende muito sobre as plantas. E que tal continuar o hábito depois de crescidos e descobrir que, com a jardinagem, também aprendemos muito sobre nós mesmos? Mas deixe o algodão de lado. Agora você pode, e deve, meter a mão na terra, como já faziam os egípcios por volta de 6000 a.C, quando cultivavam as evidências mais antigas que se tem de jardins. Uma longa história, que começa quando o homem passa a produzir alimentos em pomares e decide proteger a área, usando-a também como espaço de lazer. Já o jardim ornamental floresce, pela primeira vez, com os persas. Eles desejavam materializar o Éden na Terra, com plantas que seduzem pelas formas, cores, texturas e perfumes. Pouco a pouco, o jardim das delícias alcançou novas paragens, inclusive no Ocidente, onde foi introduzido pelos romanos.



No Brasil, os jardins demoraram a chegar. Nem mesmo a expansão marítima foi capaz de trazer esse costume milenar para terras tupiniquins. Se os índios tinham a natureza toda, para que iriam querer um jardim? Os jardins só chegaram ao Brasil com dom João VI, no início do século XIX. Ele criou o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, um projeto neoclássico executado por artistas franceses, diz o professor de história dos jardins da Escola Municipal de Paisagismo, no Parque Ibirapuera, em São Paulo, Marco Antônio Braga. E cabe a nós continuar essa trajetória que atravessou os tempos e os estilos na incessante busca de um maior contato com a natureza.



Jardim de afetos

A primeira vantagem de cuidar de um jardim é ampliar a relação com o mundo natural. Nem é preciso dizer que isso traz um grande bem-estar. Seja no quintal de casa, na floreira do escritório, no canteiro da praça ou no canto do parque. O prazer de mexer com as plantas começa pelo fato de colocar você para fora de casa, bem ali, entre o céu e a terra, sujeito a pegar chuva, corar no sol e sentir uma brisa no rosto, como um presente depois do exercício que é regar aqui e podar acolá. Exercício, sim, de até doer os músculos se a carga for de muitas horas. Mas aquele dolorido que compensa quando se abre a primeira flor para lembrâ-lo que tudo tem seu tempo.



Não adianta querer correr,a natureza tem um ritmo próprio. Tem que aprender a ter paciência para que as coisas aconteçam em seu ciclo natural. A jardinagem nos coloca de volta no ritmo da natureza, é o retorno com a terra, diz a coordenadora de cursos da Escola Municipal de Paisagismo, em São Paulo, Sandra Stahlhauer. Assim, você desacelera e passa a notar os fenômenos mais básicos da natureza, antes despercebidos. Pense bem: quando é que a chuva afeta você? Quando você está a pé na rua prestes a ser encharcado ou vai pegar o maior trânsito na saída do trabalho, diga a verdade. E se o tempo está muito seco? Talvez seja preciso duas marias-sem-vergonha murchas na cerca para perceber que você e elas necessitam de água em dose extra. O contrário também é válido. Se na sua cidade está fazendo um baita calor e você está quase derretendo, por que cargas dágua suas plantas, que são seres vivos como todos nós, também não estariam mortas de sede?



Sim, cuidar de plantas dá trabalho. Mas o bom é que até esse trabalho dá prazer, por mais árduo que seja. A jardinagem é uma atividade que exige concentração, já que você é responsável por uma vida e tem que prestar atenção nos mínimos detalhes para garantir o bem-estar da planta. E ninguém que está ali, cuidando de uma vida, fica pensando no IPTU, na CPI, no caos do trânsito ou no terrorismo. Por conta disso, aquele momento acaba sendo só seu. Ou seja: além de ampliar o contato com a natureza, você fica mais próximo de você mesmo. É como se o mundo à sua volta parasse por instantes para você cuidar de um pedacinho da natureza, para depois contemplá-la. Aproveitar a sombra de uma árvore frondosa, que era apenas uma muda, comer uma frutinha que caiu do pé ou simplesmente apreciar a beleza de uma flor recém-aberta. Quer coisa melhor que perfume de damada- noite e cheiro de terra molhada? E, para isso,nada de ser avarento.Um jardim demanda doação,um pouquinho que seja. Parar de pensar só em si e pensar no outro. Ou pelo menos pensar em si e lembrar do outro. É mais ou menos como ter um animal de estimação ou, guardadas as devidas proporções, um filho.



Diz o ditado que se você conseguir cuidar direitinho por uma semana de uma samambaia e de um cachorro estará pronto para ter um filho.A bióloga Assucena Tupiassu, que carrega esse sonoro nome de flor, recomenda uma camélia, pelo menos, pois samambaia é muito fácil de cuidar. E assim como A recompensa vem quando a planta floresce e fica toda linda, para você exercer seu lado coruja filhos,plantas também devem ser muito bem tratadas, mas nunca mimadas. E o que significa mimar uma planta? Dar água ou adubo demais, por exemplo, pode até matar a coitadinha.Pais superprotetores criam filhos sem imunidade, diz Assucena. Fica o conselho para a prole humana e a vegetal.

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